quinta-feira, outubro 07, 2010

LENÇOS QUE VAMOS GUARDANDO

LENÇOS QUE VAMOS GUARDANDO

Ela morava numa casa para idosos na cidade do Rio de Janeiro.
Aos 90 anos, exercitava o idioma inglês que aprendera, sem sotaque. À margem de livros de poemas, ela ia vertendo os poetas brasileiros para o idioma de Shakespeare. Era para não esquecer.
Agora, o que lhe dava realmente prazer era receber uma visita. Quando isto acontecia, seu ritual era emocionante. Sobre a cama no quarto, ela desenrolava cada um dos lenços de seda que comprara em suas viagens ao lado do marido (já falecido). Ao estender cada um deles, ia descrevendo a cidade onde o adquirira. Quem prestasse atenção conheceria paises e continentes sem ter ido lá.
Como esta senhora, ao longo da vida vamos colecionando lenços.
Que memórias registram? Que sabores guardam? De que cores são? De que tecido foram feitos?
Os daquela senhora eram de seda, em muitas cores. Não guardavam amarguras. Eram lampejos de saudade. Eram testemunhos de gratidão.
Todos guardamos lenços (sejam fotos, bilhetes, "recuerdos", quadros, papéis ou lenços mesmo). Podemos desenrola-los sobre a cama, como memórias de alegria e esperança?