quinta-feira, janeiro 06, 2011

Fora da igreja há salvação?

Fora da igreja há salvação?

 
Ainda que involutariamente, o questionamento atravessa séculos, permanecendo e provocando discussões entre cristãos. ”Perdi um amigo que não chegou a freqüentar nenhuma igreja evangélica. Porém ele acreditava em Deus e reconhecia o Seu poder. Ele foi salvo?”. Esse pode ser o questionamento de muitos cristãos que passaram pela perda de amigos, parentes ou até mesmo do cônjuge. Uma pessoa que freqüenta a igreja dá sinais da fé que professa, mas será que essa prova é necessária para a salvação do homem?
Em entrevista ao Guia-me, o pastor da Primeira Igreja Presbiteriana de Vitória (ES), Hernandes Dias Lopes, mostrou que tal indagação possui uma complexidade maior do que se imagina. Segundo o teólogo, quando fala-se em Igreja, pode-se fazer referência à igreja visível (instituição, templo, denominação) e à invisível (corpo de Cristo). ”A grande questão é definir o que é Igreja. A salvação não pode ser desvinculada da Igreja se a entendemos como corpo de Cristo, a noiva do Cordeiro, a igreja invisível. É possível que alguém faça parte da igreja invisível sem ser membro da igreja visível”, lembrou.
Para responder parte deste questionamento, Rev. Hernades cita dois exemplos específicos, o de um dos ladrões crucificados ao lado de Jesus (Lc 23:32-43) e o de Judas (Mt 27:5): ”O ladrão na cruz, arrependido, não teve tempo de ser batizado nem de filiar-se a uma igreja [visível]”, expôs o reverendo, lembrando que, por reconhecer Jesus como filho de Deus naquele momento e aceitá-Lo como seu salvador, o infrator já estava salvo, fazendo parte assim da igreja invisível. ”É possível também, alguém ser membro da igreja visível e não ser membro da igreja invisível. Judas foi apóstolo de Cristo e não foi salvo”.
Apesar de afirmar que a salvação não necessita da igreja como instituição, Hernandes Dias Lopes reiterou a importância da comunidade no cotidiano cristão e do batismo como forma de integração à vida comunitária. ”Isso não é uma desculpa para deixar de fazer parte da igreja visível. Precisamos ser integrados à comunhão da igreja pelo batismo (Mt 28.19,20). Um crente que despreza a comunhão dá provas que não pertence ao corpo de Cristo”, afirmou.
Comunhão: caminho para conhecer a Deus
Em seu livro ”Janelas para a Vida – Espiritualidade do Cotidiano”, o Pastor da Igreja Presbiteriana do Planalto (DF), Ricardo Barbosa de Sousa, assume que se questionou a respeito da importância da igreja em sua vida durante sua juventude: ”Será que o que eu experimento nela, eu não conseguiria noutro lugar?”; “Será que não me tornei um dependente eclesiástico, daqueles que, por não saberem conviver consigo mesmos, por terem medo da solidão, precisam da comunidade?”. “Responder esta pergunta foi pra mim uma tarefa mais que teológica, era existencial”.
Confirmando o raciocínio proposto pelo Rev. Hernandes, Ricardo Barbosa lembra da importância da comunhão como um fator inerente ao ser humano. ”O verdadeiro ser é uma pessoa livre, uma pessoa que livremente ama, que livremente afirma sua identidade numa comunhão com outra pessoa. Afirmamos que cremos num único Deus porque cremos numa comunhão tão perfeita de amor e entrega que não vemos três, mas um único e indivisível Deus onde a comunhão precede e determina o ser”, afirma.
A base bíblica para que Souza cite a importância da comunhão praticada na Igreja vem das palavras do próprio Cristo, as quais recebem a interpretação do teólogo. ”O conhecimento de Deus só é possível a partir da compreensão e aceitação dessa comunhão, pelo fato de Ele mesmo não existir fora dela. Jesus afirmou: “Ninguém sabe quem é o Filho, senão o Pai; e também ninguém sabe quem é o Pai, senão o Filho, e aquele a quem o Filho o quiser revelar”. Esta declaração demonstra o quanto o ser de Deus é intrinsecamente relacionado; o quanto o conhecimento depende da comunhão”.
Agência Exclusiva de Deus
Pastor da Igreja Presbiteriana Central de São Vicente (SP), o Rev. Fábio Ciribelli lembra a importância da Igreja como ”agência exlusiva do reino de Deus”, recorrendo à passagem bíblica de Efésios 3.8-12. ”Em minha avaliação encontro a Igreja (organismo ou ‘invisível’ e organização ou ‘visível’) como ‘agência exclusiva do Reino de Deus’ entre ‘principados e potestades nos lugares celestiais’ e  ‘homens e mulheres’ na terra”, afirma.
Ainda no livro de Efésios, Pr. Ciribelli lembra que a igreja não é a responsável pela salvação do indivíduo, mas sim quem a proclama, anuncia tal possibilidade e mantém a fé do indivíduo enqüanto cristão. ”Em Efésios 3.8-12 (ela anuncia em todo tempo os ‘desígnios de Deus e a multiforme sabedoria de Deus’). Passamos por Romanos 10.16-21 (a ininterrupta pregação do evangelho, que alcançará a toda criatura). Por I Co 1-9 ( pela igreja Deus habilita o seu povo e com sua graça o sustenta na fé). E, por fim, podemos ficar com Efésios de novo 4.7-16, mostrando o papel de equipar os santos para toda boa obra feito pela igreja”, expõe.
O fato de a Igreja não poder caminhar sem a orientação divina não deixou de ser lembrado por Ciribelli, que citou dons espirituais como fatores de aperfeiçoamento da comunidade. ”Em Filipenses, Paulo fala que é Deus quem opera em nós tanto o querer como o realizar e em Efésios Paulo diz que Jesus Deus dons de apóstolo, profetas, evangelistas, pastores e mestres para aperfeiçoar a igreja na vida cristã e em todo o seu papel de sustentação da salvação”, conclui.

LIDERANÇA CRISTÃ E CRISE (Oswaldo Jacob)

LIDERANÇA CRISTÃ E CRISE (Oswaldo Jacob)

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Quando tiramos o S da palavra crise lê-se CRIE. A crise é um tempo de turbulência, ventos fortíssimos, tensão, situações adversas, tempestades... A palavra ‘crise’ vem do latim ‘crisis’ quer dizer “conjuntura perigosa; momento perigoso e decisivo”. Todos nós temos nossas crises sejam internas, sejam externas. Os chineses dizem que crise é oportunidade. Certamente oportunidade para buscar novos caminhos, novas formas de enfrenta-la e vencê-la, criar novos rumos, estabelecer novas metas, novos objetivos, ter nova disposição, focar o essencial. A crise é um momento de avaliar desempenho, procedimentos e mecanismos. É a oportunidade de criar, de usar da criatividade, procurando utilizar dons (espirituais) e talentos (naturais) para o crescimento qualitativo e quantitativo seja pessoal ou coletivo. Utilizar dons e talentos para o crescimento pessoal e da comunidade onde estamos inseridos, onde exercemos a liderança. 
Ao fazermos uma leitura dos personagens bíblicos, veremos que todos tiveram crises de fé, confiança, vocação, valores, relacionamento, liderança... Diante das crises ou somos maduros ou imaturos. Revelamos maturidade quando respondemos a crise com fé, confiança, amor, mansidão e trabalho sério. Somos imaturos quando agimos com incredulidade,murmuração, pessimismo, rejeição, justificativas e acomodação. A crise deve sempre nos conduzir a uma intimidade e consequente dependência de Deus, nosso Pai. Moisés não entrou na terra prometida em função da sua impaciência e falta de fé na ‘crise da falta de água’ quando estava no deserto em direção à Canaã. Em vez de falar à rocha, ele a feriu. Diante das pressões, ele preferiu ferir e não falar. Na verdade, é mais fácil ferir, ser impaciente.  Neemias, por outro lado, respondeu à crise social e ao caos estruturalda cidade de Jerusalém com fé, paciência, proatividade, trabalho sério, promoção da unidade do povo, criatividade e dependência de Deus. Venceu os inimigos de dentro e de fora da cidade buscando a solução em Deus, treinando uma equipe de primeira e procurando trabalhar duramente à luz dos valores do Reino de Deus.
Como líderes, aprendemos muito coma crise. Os melhores comandantes de navio são aqueles que enfrentam tempestades como os dos pesqueiros do Mar de Bering (Alasca). Eles enfrentam ondas de oito metros e ventos fortíssimos. Amyr Klink enfrentou muitas crises em suas viagens marítimas. Ele foi muito corajoso ao navegar sozinho. Na sua experiência, aprendeu grandes lições de liderança – autocontrole, perseverança, foco, criatividade, alternativas, correção de rumo... Lembro-me com gratidão da tempestade pela qual Paulo, o comandante, os marinheiros e passageiros daquele barco que levava o apóstolo a Roma (At 27.1 – 28.10). A reação de Paulo era de um líder maduro, experimentado nas crises, que possuía plena confiança no seu Senhor.  Ele me ensina que a crise da liderança se enfrenta com fé, amor, perseverança, criatividade, humildade, dependência de Deus, otimismo, serviço amoroso e dedicação. As suas cartas são um testemunho de uma liderança segura em Deus. Mas o Senhor Jesus deixou muito claro que a vida do cristão neste mundo é de aflições, tribulações, crises, mas nos garantiu a Sua presença vitoriosa (João 16.33). Ele prometeu estar conosco nas circunstâncias mais difíceis.  O líder precisa aprender estar nos pastos verdejantes (bonança)e no vale da sombra da morte (turbulência, perigos). A segurança está na certeza de que“não temerei mal algum porque tu estás comigo” (Sl 23.4). Sejamos líderes cheios do amor do Pai, da graça do Filho e do poder do Espírito no meio da crise inerente ao nosso ministério exercido neste mundo mau e tenebroso.